quinta-feira, 17 de maio de 2012

Indagações (profundas demais) de um garoto de 2 anos...

Miguel fala tudo. T-U-D-O. Conversa mesmo. Pergunta. Conjuga verbos. Formula frases grandes. Enfim, um mini adulto. Mas agora ele deu pra questionar (não seria muito cedo pra entrar na fase dos "por quês?")e eu to aqui tentando responder às indagações.

Outro dia, quando levava ele à creche, passamos por um passarinho morto (um tanto ensanguentado) no chão. Ele perguntou: "quiqui isso, mãe?". Eu respondi: "É um passarinho morto filho". Ele: "Passalinho moto?". Eu: "É". Daí que todo dia em que passávamos lá, ele apontava e falava: "Olha mãe, o passalinho moto". 
- Pausa - Gente, que mundo é esse onde existe tanta invisibilidade a um passarinho? Mais de uma semana e o corpo do bichinho estendido no chão. De cortar o coração - Despausa.

Aí, num belo dia, ele solta: "Voa passalinho moto, voa". Aí eu expliquei que ele não podia voar mais porque tinha dormido pra sempre, estava morto (sou pedagógica?). Ele: "Não mãe, não qué passalinho moto, qué passalinho voando". Expliquei de novo que infelizmente não podia mais, ele soltou : "Por que mãe, passalinho morreu?". Falei que todo mundo morre, que até eu, a vovó e ele um dia ia morrer (psicológos do mundo inteiro, tremei). Ele pensa, fica em silêncio, depois setencia: "Não qué morrer, nem mamãe, nem vovó". Eu fico calada e penso: "Nem eu filho, nem eu".

                                          (Miguel pensando em coisas sérias e relevantes pra sociedade)


Ainda no mesmo (curto) percurso de casa pra escolinha, ele sempre vê moradores de rua (ou melhor, pessoas em situação de rua) nas calçadas . Tem um que fica pedindo esmolas numa cadeira de rodas e Miguel e ele são praticamente brothers. Miguel manda beijo e o cumprimenta todos os dias e fala: "Ele tá dodói né?". Agora, começou o tempo frio aqui em Brasília e alguns sumiram, mas antes de ontem, tinha um homem deitado num papelão, em frente à padaria, coberto em jornais. Passamos e ele falou (para o homem): "Sai daí homi, vai pra sua casa, tá fio". O homem estava dormindo, provavelmente não ouviu. Ele ficou repetindo e pedindo pra mim, pra eu mandar o homem ir pra casa dele. Expliquei que existem pessoas que não tem casa, e era o caso daquele homem. Ele retrucou: "Homi não tem casa, mãe, por que?" .

Agora a gente pensa: Estudei 4 anos em um curso que basicamente estuda e intervém no sistema capitalista, a partir de suas contradições a fim de superar essa desigualdade social, e mesmo assim não entendo tanta coisa assim e vem uma criança de 02 anos e tenta questionar tudo isso.

Quem disse que seria fácil né?

(Agora, que meu coração enche de orgulho desse pequeno questionador, ah isso, sim!)



5 comentários:

  1. MEU DEUS! Sabe o que a gente aprendeu com esses 4 anos amiga? NADA!! Realmente tem questões que a gente não sabe explicar e muito menos 'intervir'... Por isso que eu amo cada vez mais esse pequeno!

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  2. Lindo esse Miguel e inteligente... super esperto!! tambem o filho de Marília (de quem não me canso de rasgar elogios)!Esse menino vai longe!!!!
    Parabens Marília, super mae!
    Lu

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  3. A Gabi também é muito questionadora!
    Expliquei a questão da morte mais ou menos do mesmo jeito que você, mas como ela ficou preocupada que eu e o pai também íamos morrer, disse que era só quando a gente ficasse velhinho... O problema é que agora, se ela vê uma pessoa idosa na rua, ela vira e pergunta: "ele vai morre agora que é velhinho?" Tem pessoas que chegam a se assustar, hahaha
    Sobre as desigualdades socias, não mascaro a realidade e explico pra ela, assim como você, que tem pessoas que não tem casa. Ela já vai além e pergunta o por que eles não tem casa, e aí sim eu me enrolo pra explicar. O que dizer nessas horas?

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    Respostas
    1. É Amanda...acho que não tem outra saída mesmo...o jeito é mostrar o mundo como ele é! Mas claro, de uma forma que eles entendam e que não assuste demais, rs (apesar que até nós adultos fiquemos, hehehe).

      Beijos

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  4. Bom dia a todos/as que passaram ou passarão por essa seção de comentários. Meu nome é Lúcia, eu não sou mãe, mas estou estudando/pesquisando sobre maternidade(s)para um curso de pós em Linguística Aplicada aqui no blog da Marília com o conhecimento e a devida autorização dela, é claro. Li a postagem da Marília, como sempre muito sensível, atenta aos detalhes sutis do comportamento infantil e, por isso, mesmo preciosos e também os outros comentários e fiquei me perguntando: de que modos uma mãe pode ajudar o filho a ser uma pessoa consciente dos problemas sociais e lutador por uma realidade menos injusta quando a gente tem uma estrutura socioeconômica com tantas desigualdades e exemplos que vão da indiferença a uma série de atos de corrupção e roubo que só fazem piorar a situação, sobretudo, das camadas menos favorecidas? Qual o papel da mãe nesse processo? Quais as dúvidas e incertezas? Obrigada e abraços a todos/as!

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