quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um tapinha não dói?

Semana passada marido acordou mais cedo que o habitual porque tinha um compromisso no trabalho: ia à cerimônia em que o presidente Lula assinaria o Projeto de Lei Nº 2654 /2003, o PL da "palmada" (que proíbe o uso de qualquer tipo de punição corporal contra crianças e a adolescentes).Depois os jornais só falaram disso. Depois o povo do twitter. E eu, tive que sentar pra escrever o que eu penso sobre isso.

SOU A FAVOR DA LEI ANTI-PALMADA SIM!

Sempre fui militante, mesmo sem saber que era. Desde criança procurei um ideal a me apegar. Nunca gostei de viver assim, sem opinião formada e nunca, nunca ouvi as coisas no jornal e na Tv sem antes questionar. Isso despertou em mim um pensamento crítico enorme. Sempre adorei horário político (e a política). Na minha agendinha de criança tinha uma frasezinha de apoio a um candidato a presidencia da república. Meus pais sempre foram de esquerda. Meu pai,especificamente, sindicalista (hoje desiludido de qualquer luta, mas abafa). Na faculdade conheci o movimento estudantil e suas bandeiras de luta (e sim, os revolucionários de boutique, que acham que basta uma camisa do Che pra militar, mas ok...).Meu curso (Serviço Social) é reflexivo e interventivo. Durante quatro anos você estuda a sociedade, pra depois intervir nela. Me apaixonei mais ainda por essa coisa toda de ideologia. O Heitor é o mais miltante de todos,um rato de partido e sindicato, e daqueles raros e honestos que estão em extinção no mundo. Essa sempre foi a minha vida. Aí engravidei e achei que iria aposentar minha vida de ativista social pra me alienar entre as fraldas sujas e mamadeiras.

Engano meu.

Depois que virei mãe, me tornei mais militante ainda. Uma militância em prol da maternidade ativa e consciente. Descobri uma outra forma de maternar. Onde a mulher é protaganista do seu parto. Um parto natural, não um ato médico. Uma maternidade que enxerga que a amamentação, o carinho, o afago, o embalar antes de dormir, o dormir junto, o colo não deixam meninos mimados, mas sim crianças felizes. Uma maternidade em que cada mãe tem o direito de decidir o que é  melhor pro seu filho, desde que esteja bem informada. Uma maternidade mais mamífera e menos robótica. Conheci o "attachment parenting", que em português significa mais ou menos "maternidade/paternidade por apego" (prometo fazer um post só pra falar disso). É baseado por práticas, ferramentas para suprir a necessidade da criança de confiança, empatia e afeto. Que vai fornecer à criança um fundamento para vida de relações saudáveis. É criar relações fortes e saudáveis entre nós e nossos filhos.

E é aí que entra a tal da palmada e relação com a lei.

Antes da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente as crianças e adolescentes eram vistos como "mini adultos" e, portanto, com os mesmos deveres. Depois com o "código de menores", os que cometiam infrações eram punidos e "afastados" do convívio social, tudo claro, para manter a ordem da sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente, fruto de grande mobilização social (ói os militantes pra que servem) veio revolucionar essa visão sobre isso. Crianças e adolescentes são seres em formação e sujeitos de direito, não podem ser tratados como adultos. Surgiu aí a doutrina da proteção integral por parte do Estado. (E eu vou parar de falar essa trajetória histórica porque senão esse post ficará imenso e chato de ler).

Coincidentemente ou não,é isso que fala o "Attachment Parenting": Nossos filhos não são propriedades nossa! São sujeitos de direito. Crianças tem o direito de serem ouvidas, respeitadas e protegidas: Por que não pode agredir um adulto e uma criança sim? Por que  maltratar um animal é horrendo e um adolescente não?

Pais não são donos dos filhos.

Estagiei dois anos na Vara da Infância e da Juventude e sei dos milhares de casos de agressões contra crianças e adolescentes. Muitos começaram com "tapinhas" inocentes. E não, eu não tô dizendo que quem corrige o filho com uma palmada vai espancar no futuro, tampouco julgando quem acha essa maneira correta de "educar".

Como falei lá em cima, apoio uma maternidade/paternidade consciente e principalmente o direito de livre escolha. Mas tinha que falar o meu ponto de vista aqui. Dizer que "apanhei do meu pai e não fiquei traumatizado" ou "fui espancado e não virei bandido" não é argumento. Eu apanhei algumas vezes dos meus pais e também não, não virei nada de ruim. Amo meus pais e os admiro muito, mas se eu pudesse escolher, teria preferido NÃO APANHAR.

A questão não é se a criança vai ficar traumatizada, vai se rebelar ou sei lá o quê. Isso deixo pra um psicólogo falar. A questão é que essa lei, se for aprovada, será inexiquivel Ela não conseguirá alcançar todos os pais que punem seus filhos com castigos corporais, é matematicamente impossível. Ela é um passo a frente para a construção de uma sociedade não violenta e uma sociedade que respeita suas crianças e adolescentes, tratando-os com respeito e dignidade.

Eu, pessoalmente, não vim aqui dar lição de moral e dar margem pra dizerem que "na teoria tudo é lindo, espere seu filho crescer e te dar trabalho". Sou humana, passível a erros o tempo todo e sei que posso vir a dar um tapa no meu filho em um momento de raiva. Mas a diferença é que não acredito que isso o esteja educando.

Prefiro acreditar numa outra forma de educar meu filho.Não quero obediência por medo. Nunca acreditei que alguém consiga ser respeitado na base do grito, da ameaça, da agressão física. 


Miguel mlitando em causa própria, rs
E queria muito que nem precisasse de lei para isso. Mas não se muda uma cultura de um dia para outro. 

Abaixo os "tapinhas. Um tapinha? Dói, dói sim...

2 comentários:

  1. Oi querida. Vim aqui manifestar o meu total apoio ao seu pensamento, até mesmo porque é exatamente o que penso a respeito. Já estou até programando escrever sobre o assunto porque acho mesmo que todas nós mamães, que somos apaixonadas pela maternidade e que temos informação, devemos informar e fazer todos saberem que bater não é o caminho e não traz qualquer resultado saudável. Vou escrever logo sobre o assunto,trazendo uma visão mais jurídica já que faço Direito. Acho válido nos unirmos em apoio a essa lei. Beijos!

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  2. Não sou a favor da violência, muito menos violência contra um indefeso, uma criança, um inocente. Mas a questão da lei é bem mais que isso. Leis não mudam o comportamento de uma sociedade, se assim fosse, todas as crianças teriam direito a educação, saúde, moradia e lazer. É esse quadro que vemos nas ruas? Muito mais proveitoso é fazer valer de fato os direitos contidos no estatuto da criança e do adolescente que inventar uma nova lei que de nada valerá senão promever os elegíveis em um ano de eleições. Quem fiscalizará uma lei dessas? Qual benefício terão as crianças que realmente precisam de proteção, como as que moram nas ruas, que são vendidas por seus pais, que são discriminadas pelo estado?
    É um discussão válida, mas é isso que deveria ser: só uma discussão. Leis não mudam comportamentos, não mudam pessoas.
    Como você, não sou dona da verdade, mas gosto de dar minha opnião quando há oportunidade.

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