quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mulher de peito: amamentação fora dos clichês

Tem um bom tempo que quero falar sobre isso aqui e acho que chegou o momento, porque consegui alcançar a incrível marca de 6 meses de amamentação exclusiva (clap, clap, clap!).

Falo "incrível marca" porque fácil não foi. Minha mãe, meu pai, minha avó, minha sogra, minhas irmãs o os desconhecidos da rua insistiram: "dá uma aguinha, ele sente sede", "dá uma 'chuquinha' com suco", "já tá na hora de ele começar a comer frutinhas". Quando o ganho de peso dele foi baixo, até o Heitor cedeu e ficava falando que ele PRECISAVA se alimentar.
E eu pensava: "mas ele não está se alimentando? tem alimento mais completo que meu leite?".
Não dei nada, além de peitão nele.
Alguns chamaram de capricho, outros de radicalismo, outros de besteira.

Eu chamei de CUIDADO.

Sabe aquela história de que "amamentar é um ato de amor". Discordo. E esse texto aqui aqui fala lindamente sobre isso.
Amamentar meu filho NÃO foi um ato de amor meu. Foi minha OBRIGAÇÃO enquanto mãe, saudável e com leite. Não acho mérito nenhum alimentar um filho com o alimento que meu corpo produz. E muito menos preferir dar esse alimento, que é só o que ele precisa, ao invés de dar outras coisas.

Sei que é polêmico, mas é o que eu penso. Vamos sair dessa poesia e pensar praticamente. No meu caso: eu tive leite, muito leite, nao tive nenhuma intercorrência: por que não amamentaria? Segui o ritmo biológico da vida. Os bichos são assim. Eu pari, eu amamentei.Acontece que tá tão fora de moda ser natural, acreditar no corpo, na vida, tanta gente enfiando fórmula artificial em bebê que amamentar tornou-se mérito.

Eu defendo a amamentação. Acho um momento sublime. Mas não é ato de amor, é ato de responsabilidade, quem sabe. A mãe que amamenta tá dando o direito da criança de ser alimentada com o que ela precisa.

Conceitos devidamente explicados, comemorei muito amamentar exclusivo por 6 meses por aqui. Foi difícil. É sim uma conquista MINHA chegar até aqui. Sabe aquela história de "dá uma aguazinha"? Então, ouvi muito isso, mas li, fui atrás, pra argumentar quem palpitava sobre a alimentação do Miguel.

Sabiam que dar água para o bebê antes de 6 meses de idade pode:

- Aumentar o risco de malnutrição, pois a água não tem valor nutritivo e enche o estomâgo do bebê para um espaço que deveria ser do leite materno, que mata a sede e nutre.
"Estudos mostram que dar água antes da idade de seis meses pode reduzir a ingestão de leite materno em até 11 por cento. "

- Dar água aumenta o risco de doenças, e outros alimentos também, quer sejam líquidos, quer sejam sólidos, são veículos de entrada de agentes patológicos. Os bebés correm o maior risco de exposição a organismos causadores de diarreia, especialmente em ambientes com condições precárias de higiene e saneamento. O leite materno garante o acesso do lactente a um suprimento adequado e prontamente disponível de água limpa.

Fonte: aqui


Os benefícios da amamentação exclusiva, você pode ler aqui aqui ó


Não dei uma gotinha de água, suco, chá ou fruta pro Miguel até ele completar 6 meses. Simplesmente porque NÃO HOUVE NECESSIDADE. Não há necessidade. Eu confiei no meu leite, que ele poderia suprir as necessidades do meu filho e ponto.
Não foi fácil. Muitas vezes fiquei me perguntando até onde estava indo a "minha vontade" de amamentar exclusivo e a necessidade dele de outros alimentos. A cena mais comum é: você está comendo algo (não importa se é chocolate ou macarronada) e seu bebê, fica olhando, babando quase, na sua comida. Todos em volta: "tadinho, ele tá com vontade", "que maldade com o 'bichinho'" e daí em diante.

Ora, bebês são curiosos por natureza e sentem cheiros, então é óbvio a vontade de desbravar aquele desconhecido (comida), mas não porque ele quer comer. Ele nunca experimentou nada além de leite materno, vocês acham que ele pensa "ai que vontade de mudar o cardápio"?. Não, óbvio, que não.
Aliás, acho que se dependesse dos bebês, eles se alimentariam de leite materno o resto da vida. Já pensou você ter tudo o que precisa, só sugando (sem ter que mastigar, morder), um seio quentinho e macio da pessoa que você mais ama no mundo? Pois é.

Esse texto , da Rê, mamífera, fala mais sobre isso.


Dada toda a pressão que eu sofri pra introduzir alimentos sólidos no meu filho, eu consegui. Ainda não fomos ao pediatra, mas Miguel está na casa dos 7,5 Kg, ou seja, mais que dobrou de peso, após o nascimento.

É claro que minha situação foi mais confortável, pois minha licença é de 6 meses (e ainda tirei 1 mês de férias), sendo que a maioria das mulheres voltam a trabalhar no 4º mês da criança, e aí, realmente é outra situação. Mas lembro que a mãe pode ordenhar seu leite e deixar para outra pessoa ofereça em sua ausência. Parece surreal? A Anne (@annepires) conseguiu e é assim que eu faço também quando preciso me ausentar também.

Sou doadora de leite materno pro banco aqui (grata até hoje pelo excelente trabalho que eles fazem. Foram eles que "ensinou" o Miguel a mamar) e ainda tenho leite pra essas ocasiões. E aí que muita gente fala "ah, você tem muito leite", mas a verdade é que toda mãe tem o leite necessário para o seu filho e ponto. E o Miguel não fica sem leite por eu doar.

A lógica é essa: o leite materno é produzido a partir da demanda do bebê. Quanto mais ele suga, mais tem.
Se você oferece leite ao seu bebê em horários pré-determinados (alô Tracy Hogg),sua produção vai cair, óbvio.
AMAMENTAR EM LIVRE DEMANDA NOS PRIMEIROS MESES DE VIDA É ESSENCIAL  pois a produção de leite está se estabelecendo perante as necessidades do bebê e colocar horários neste período pode ser perigoso para o estabelecimento da produção futura.

Não é raro ver mãe que acaba tendo que dar leite artificial porque antes amamentava em horários pré-determinados (aí o bebê não engorda como deveria, pediatra passa fórmula pra complementar, a produção cai até o leite secar e...enfim,ciclo óbvio).
Amamento em livre demanda sempre, desde o primeiro dia. Entendo que quem sabe das necessidades do bebê é o bebê. Se ele quer mamar de 15 em 15 minutos, é porque ele PRECISA..

A princípio, parece uma escravidão ficar à dispor da vontade dele de mamar, ou parece que sua vida será sempre essa bagunça de horários. Mas acredite, aqui temos uma rotina sim e imposta pelo meu filho. Dá até pra eu me programar pra tal coisa, sabendo que Miguel mamará por volta de tal hora. Mas é óbvio que não é assim, de relógio e também que tem dias que ele mama mais, ou mama menos, assim como nós adultos, acordamos dispostos ou indispostos pra um dia.


Sinceramente? Acho uma AGRESSÃO determinar hora pro bebê mamar. Sim. No útero, ele era alimentado constantemente, sem ter que fazer força, acalentado pelo som da sua mãe. Aí ele vem pra esse mundão de meudeos e é obrigado a ser alimentado em horários fixos. Fora que às vezes, ele nem quer mamar, quer apenas sentir o cheirinho da teta da mãe, o calor...e isso lhe é negado.

Miguel dorme a noite inteira, desde os 2 meses de vida e sei o quanto sou abençoada por isso. Mas por um bom tempo ele ainda acordava chorando na madrugada, e só calava quando encostava a boca no peito. era uma necessida dele,que respeitei, ao invés de negar porque era um "mau-hábito. Isso é mau-hábito? Acostumei meu filho mal? Enfim, mais sobre amamentação em livre demanda  aqui
Meu filhote começou com as frutinhas no dia 02, seu mesversário e tá aceitando tudo, de primeira. Também continua mamando, como se não houvesse amanhã. Ele precisva ser tão perfeito?

Amamentar foi cumprir meu dever de mãe, de oferecer o melhor alimento ao meu filho.Mas foi meu dever mais prazeroso,sem dúvida.


Foi um ato de amor sim, mas do meu filho por mim.
É ele quem coloca a mãozinha no meu rosto enquanto mama.
É ele que larga o peito e dá um sorrisão branco pra mim.
É ele que me olha fixamente quando tá se alimentando.
É ele que tá me amando quando mama. Eu só faço minha obrigação.

(Só por esse parágrafo acima vale a pena amamentar. Mãe que é mãe se informa. Mãe que é mãe pede ajuda quando tá tendo problemas com a amamentação. Mãe que é mãe, busca informações antes de fazer o que o pediatra ou a vizinha fala. E por último, mãe que é mãe, não se sente menos mãe por não ter amamentado.)

12 comentários:

  1. Amei o texto! está cheio de amor!

    Eu também amamentei exclusivamente até os 6 meses, agora Elena prestes a fazer 1 ano, já mama na mamadeira, quando começou a comer mais, o leite foi diminuindo e passei a dar uma mamadeira por dia, e depois duas e o leite, claro, diminuindo cada vez mais... Elena ainda mama no peito, 1 ou 2 vezes por dia, acho que mais pelo cheiro e pelo carinho que pelo leite propriamente dito, por que ela pede o peito logo após acabar a mamadeira, e eu dou, se ela quer por que não vou dar, dorme mamando... todos dizem que é mau hábito, eu chamo de carinho!
    Vou deixar ela mamar no peito até que ela não queira mais!
    O Miguel é lindo! Parabéns
    Parabéns pela persistência!

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  2. Permita-me complementar: Acho que podemos combinar que é uma OBRIGAÇÃO feita com AMOR = ATO DE AMOR! Assim como outras obrigações que virão pela frente...rsrs
    Tbm amamentei os 2 filhos: 6 meses com exclusividade e depois até 1 ano e 2 meses. É muito prazeroso, mesmo! Dá vontade de fazer o relógio parar só pra congelar aqueles olhinhos nos encarando e aquelas mãozinhas puxando/enrolando nossos cabelos.
    Parabéns!!

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  3. Olá Marília, tudo bem? Acompanho seu blog há algum tempo já!Adoto e vejo sua dedicação! PARABÉNS pela mãe guerreira que vc é! Por se permitir criar seu filho do jeito que pensa ser o melhor!
    Um grande beijo,
    Ellen

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  4. Oi Marilia!
    Sem dúvidas essa troca de amor e responsabilidade vivida entre vocês nesses 6 meses foi um ato guerreiro seu. É sabido que muitas pessoas e até os "desconhecidos da rua" (pandega!) querem de tudo quanto é jeito, dar água, suco, bolacha, coca-cola... rsrsr. Se deixar, tem opinião para tudo! Tem sempre algum pra dar pitaco nessas horas. Mas você foi firme, se informou bem e agiu da melhor forma possível pelo Miguel. Parabéns Mari, sinto orgulho de mães que são assim, MÃES mesmo! Que agem conforme seu coração manda, conforme seu bebê necessita. Mesmo amamentando ou não, como você disse, são mães responsáveis e pensam sempre no bem-estar do bebê.

    E esse negócio de água é comédia mesmo. Todo mundo insiste em dar, aff. Bom você passar esse informativo aqui e todos saberem que o leite materno é o MELHOR alimento para o bebê e tem TUDO o que ele precisa.
    Somos mesmo abençoadas pela natureza. Ter esse prazer de alimentar nossos filhos, mesmo que seja 1,2,3... 18 meses é a sensação mais maravilhosa do mundo, nada se compara e eu sinto muita falta!

    Hummm, e Miguel já tá comendo frutinha! Parece que vai ser igual ao Iury, bom de boca! rsrsrs

    Beijos em vocês!

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  5. Clap clap clap outra vez!
    Sempre me inspirando, Dona Marília! Concordo com tudo que você escreveu. Mesmo sendo seu dever, você merece todo o reconhecimento.
    Muito orgulho de você! E do pequeno, então, nem se fala!
    beijo para a dupla!!

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  6. Gent, é muita coisa para comentar, muita.
    Eu estou de acordo com absolutamente tudo que voce disse.
    Porque diabos as maes nao acreditam que o leite delas seja suficiente? Nao existe pouco leite, nao existe leite fraco.
    Ja fiz um post no meu blog sobre isso, a UNICA forma de nao ter leite é por ter feito uma mamoplastia muito envasiva. Ou entao problemas psicologicos serio.

    Amamentar nao é um ato de amor, é uma obrigaçao! Porque negar o melhor alimento para nosso filho? Falar que ama é fácil, acatar de um pediatra um complemento (na maioria das vezes desnecessário) mais fácil ainda. Ai o ciclo vai indo...
    E CLARO, o que mais tem por ai sai maes preguiçosas, que viram fã da mamadeira com LA, pq qualquer um pode dar.
    Tem mae que adestra o filho, alimenta na hora q ela acha certo e por ai vai...

    é menor mae por isso?
    Claro que nao, mas EU nao as consideros as melhores maes do mundo.

    Eu nao canso de citar a @annepires ela é meu exemplo hehehe
    Quando voltei a trabalhar pensava muito no que ela passava, e mantive a amamentaçao do meu filho sem problemas.
    E ai? Onde está o Deus das mamadeira lover's? Ai elas arrumam uma desculpa.. e por ai vai!

    Enfim, amei muito saber que voce pensa como eu.
    E o Miguel? Ele tem a melhor mae do mundo!

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  7. Ps: o meu esta com 5 meses e meio e ja ultrapassa a marca dos 8 quilos e dos 68cm


    ENORME
    hahaha

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  8. oi querida nossa que lindo texto, eu tambem sou de acordo em amamentar, tanto que dei de mamar pro
    Caio ate os 3 anos e meio, e pra mim não foi nenhuma dificuldade. Outra coisa esse negocio de ter horario, nunca fiz isso, chorava eu dava o peito, acho isso um absurdo dar de 3 em 3 hrs ou mais, com a Mariana tambem, tanto que ela tinha 5 meses e pesava 9.700kg, só no leitinho materno hehehe...não acredito em leite fraco, ou que a criança não pega, pelo menos comigo isso não aconteceu...mês que vem a Mariana vai fazer 2 anos e ainda mama no peito e vai ser ela que vai decidir quando parar...beijocas, o filho ta um fofo lindo, adorei as fotos!!!!
    Mais uma vez Parabens pelo post...

    @jocenteno
    http://jogaucha.blogspot.com/

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  9. Lindo post, lindas fotos (to babando na primeira, linda, linda, linda), lindo elo!
    Enzo tá aqui, 9 meses e ainda grudado ao peitão (mesmo com alimentação ok ele não pode ver as tetas dando mole que tasca a boca rs)

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  10. ui, que honra, apareci no post!! ihhihi

    AMEIIIII o texto, amei as fotos e concordo com tuuuudo (menos com a parte do amor, eu, eu, eu, eu acho que é um pouco ato de amor sim hihihih)
    mas achei fabuloso vc dizer a mais pura verdade, amamentar é uma obrigação, um dever como mãe!

    e eu sei muito bem como é alcançar essa vitóriaaa! vitória por ter passado por tantas barreias com os palpiteiros de plantão, com a mão na chuquinha quase enfiando na boca do seu bebê. é uma conquista!! dá gosto, o coração fica em festa
    eu fico feliz e abro um sorrisão toda vez que penso nisso, puxa, consegui! E fico ainda mais feliz de ver outras mães emponderadas, pensando como eu, agindo como eu... mães naturais raras, raríssimas, que eu tenho o maior prazer em estar perto, mesmo que virtualmente.. como você!

    linda, parabéns!!! to orgulhosa de vc, muito! pela conquista, pelo texto maravilhoso e por essa mãezona que é
    beijinhos no Miguel hihi

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  11. Achei o texto muito coerente, como poucos que ando lendo sobre amamentação. Tudo o que vejo são mulheres se "gabando" de amamentarem seus filhos, como se elas fossem superespeciais por estarem apenas seguindo o ritmo biológico.

    Adorei ler finalmente alguém dizendo que questionou até onde ia a sua própria necessidade de amamentar e a necessidade do bebê. Acho esse um questionamento importante. Na sua história, é claro que era necessidade do bebê (que ainda nem 6 meses tinha), e que bom que você teve discernimento para perceber isso. Mas, se por um lado as mulheres estão cada vez mais conscientes de que devem amamentar seus filhos pelo menos até os 6 meses, por outro estão fanáticas demais para perceberem que, em determinadas situações, a amamentação é uma necessidade delas. Cada contexto é um contexto, de forma que existem crianças que não se beneficiam da amamentação após uma certa idade. Ao transformar a amamentação em ideal (quando na verdade é apenas um ato natural), não dar o braço a torcer passa a ser mais importante do que o bem-estar da criança.

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  12. Maravilhoso o seu texto!
    é exatamente isso que sinto... é meu dever como mãe!
    agora, antes dos 4 meses, o médico quer que eu introduza frutinhas e suco porque ele vai para a creche... eu não quero e vou lutar para que ele mame "exclusivamente" por pelo menos mais 1 mês...
    bjos

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